quinta-feira, 27 de março de 2014

O Palhaço e o Demônio

O circense acorda confuso, perdido. Olha em volta e vê desgraça e sofrimento. Vê gente queimando e suas peles se tornado cinzas e sua gordura derretendo como gelo em uma fogueira. Ouve gritos desesperadores e  o som de lágrimas caindo de órbitas costuradas ao chão empoeirado e fedendo a putrefação, fumaça e vinagre. "Continuo em casa?" - Pensa ele. Logo em seguida ouve uma voz inesquecível e irônica, mas ao mesmo tempo desprezível e grossa - "Está em um lugar pior que sua casa, circense mortal." - Diz a tal voz - "Que nostalgia esta espelunca. Pior? Semelhante." - Retruca o circense.

_ Cuidado com o que diz, filho da puta. Aqui não é o bar onde assassinava seu fígado. Não me importa suas crenças, fé ou esperanças, ou qualquer babaquice que era sua "religião" inútil, aqui você é só mais um fudido, nada mais. - Esclareceu o soberano de tal lugar.

_ Claro que não é meu bar, lá havia jazz e indie tocando a madrugada toda. Aqui só há barulho de choros e gritos, parece uma maternidade. Sou cético a tudo, seu corno. Até aqui se fala sobre religião? Que saco! Quais são os outros rótulos? Sou um fudido aqui? Lá em cima eu também era, não me importo. Pra merda tudo isso.

O demônio começa a rir.

_ Temos um palhaço afinal! Muito engraçado, otário, muito divertido. Você tem talento. Mas acho que não entendeu sua atual situação aqui! Vejamos seus pecados!

_ De acordo com o que? Cristianismo? Evangelismo? Feliciano... Edir Macedo talvez?!

_ Calado! Hum.. Se tirarmos os mandamentos 5, 7 e 8, você desobedeceu todos os outros sete mandamentos... Que grave seu caso, "clown".

_ Você como demônio é uma ótima biscate. Veja direito, desobedeci todos os 10. "Não matarás", matei a mim mesmo toda noite durante esses 23 anos como palhaço. "Não roubar"?! Roubei o pôr-do-sol para somente mim mesmo e a lua para me fazer companhia, coloquei-a em meu bolso. "Não levantar falsos testemunhos", fiz isso várias vezes para consolar viciados e os ajudar a sair do vício. Sempre dizendo que "Deus sabe o que faz" e "Deus isso, Deus aquilo" e os caralhos.

_ Não brinque comigo palhaço! O que pensa que ganhará com toda essa desobediência e insultos a mim?! Acha que lhe mandarei para o céu?! Ou para viver de novo para uma nova chance?!

_ Céu? Lá não posso fumar e nem falar palavrões, eu enlouqueceria. Viver novamente?! Nem se me pagasse com todo papel do mundo. Uma vida de bosta já serve, e pensar que esperei 30 anos pra poder ver onde eu cairia. Que piada!

...

sexta-feira, 21 de março de 2014

Nenhum homem que tenha vivido conhece mais sobre a vida depois da morte que eu ou você. Toda religião simplesmente desenvolveu-se com base no medo, ganância, imaginação e poesia.
Edgar A. Poe

quarta-feira, 19 de março de 2014

O Egoísta

 Era uma vez um egoísta.  Mal tinha ele idade e maturidade, e já se dizia triste. Ele não conhecia a verdadeira tristeza, mas mesmo assim era triste. 
 O egoísta também era um covarde, ou era bem esperto. Tentou ir daqui pra melhor, mas não conseguiu. Enlouqueceu. Após lágrimas e mais lágrimas, e palavras trocadas com sua progenitora, percebeu o óbvio.  Só há inferno, e este está dentro de cada um. Somente ele mesmo podia mudar seu inferno, e assim fez.
Hoje, o egoísta domina seu inferno com total sabedoria, consciência e satisfação.

segunda-feira, 17 de março de 2014

 Meu navio afundou há muito tempo. Caí nas mais profundas águas com pesos presos aos tornozelos... E ainda estou afundando.
 Perdi a consciência a tempos,e nem mesmo a pressão sobre mim fez algum efeito, quanta inutilidade. Mas a depressão nascida de mim... Essa sim me corrói, me incomoda, me inferniza. Essa sim me faz desejar que os pesos aumentem para eu ir pro inferno! Ao menos lá posso ficar em paz.
Dia miserável
miserável dia
o que faço eu com essa agonia?

Mal sabem eles sobre minhas catedrais
mal sabem eles sobre minhas (des)ilusões
mal sabem eles sobre minhas âncoras
mal sabem eles sobre meus timões...

segunda-feira, 3 de março de 2014

Que desperdício
Que desperdício de noite
Tantas luzes, tantos lugares, tantas pessoas
Apesar do dia que o calendário diz,
Não importa
É sempre um desperdício
Não apreciar a noite