sábado, 2 de novembro de 2013

Diário de Milifen, 02 de novembro

Ainda continuo vivo, Charlie. Apesar de que nem mesmo eu sei como estou assim, após todas as tentativas de me mandar de volta ao inferno daqueles babacas que valem menos de um cigarro e algumas formigas.
Tudo estava como antes por aqui. Dias 29 e 30 e fazia minhas caminhadas como de costume e via as mesmas coisas, estupros, roubos, divertimento do sofrimento alheio, e como sempre, eu interferi em tudo o que sentia despreço.
Tentativa de estupro, o desgraçado tinha lá seus 30 anos, a vítima 27, talvez mais. O estuprador estava bêbado, havia bebido todas e teria pedido fiado até não poder mais. Revoltado por ter sido expulso daquilo que chamava de bar resolver estuprar a primeira moça que aparecesse em sua frente. Eu já tinha visto a vítima antes. Voluntária no hospital localizado em um bairro pobre, saiu tarde por fazer hora extra, infelizmente, a comédia sorriu para ela. O bêbado dizia coisas sujas e baixas, me deu vontade de vomitar. A mulher tentou correr mas torceu o tornozelo tentando a fuga. Ele estava quase em cima dela, mas só estava.
Chamar a atenção, mão aberta no pescoço e no nariz, ficou mais desorientado ainda. Quebrou a garrafa que estava segurando e tentou me cortar, muito comum. Desviar dos "ataques", torcer o braço, quebrar o úmero, derrubá-lo com força de costas no chão, chute no saco arrebentando sem dúvidas suas bolas, acabou.
A mulher agradeceu e seguiu seu caminho assustada. A segui até seu apartamento, pra ter certeza de que não se encontrasse com a comédia novamente. Nada pessoal.
Noite do dia 31, "Halloween" escrito em tudo quanto é lugar. Você gosta do Halloween Charlie? Eu também não. Vários crimes foram cometidos naquele dia e todos sem cair a noite. Coisas simples como roubos em lojinhas medíocres ou tentativas de furto de carros. Todos sem sucesso. Não que a polícia tivesse feito seu trabalho, ninguém mais acredita na justiça feita por ela. Eu consegui evitar boa parte de tudo o que houve. Até chegar a noite. Que noite bela. A lua iluminava mais que os postes, ótima noite para um assassinato em massa, não?
Foi daí que eu soube dele, Crane. O psicopata sem pista. Deu início a sua lenda as 02:47 da manhã.
Era mais um show dessas bandas de adolescentes. Local fechado, pouca segurança, muito fácil. O bastardo matou mais de mil pessoas em menos de uma hora. Ninguém ouviu, as paredes eram revestidas de um material que evitava que o som saísse, não incomodando moradias próximas. Perfeito para ele. 
O mais curioso foi como eu soube disso. O lugar estava em chamas, putrefação no ar e em cada labareda presente ali. A única vítima estava do lado de fora, assustada, traumatizada. Me contou do ato psicótico em palavras simples mas que diziam muito.
Soube que ela está internada em um hospital psiquiátrico a quilômetros daqui. O que acha, Charlie? Por que de repente alguém assassinaria brutalmente milhares de adolescentes mas deixaria uma? Por que? Claro... Seu legado. Uma claramente precisaria estar viva para espalhar o medo. Ele quer ser temido. 
Talvez tenha conseguido. nesta noite nunca vi a cidade tão quieta e sem festas. Crane... Hum.

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