quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Desgraça Circense

Sorria, Pagliacci, sorria
Por que tirastes a máscara?
Por que derretestes a maquiagem?
Não contenta-se mais com narizes de plástico e flores artificiais?
Não vê mais graça em sapatos enormes e gravatas estampadas?
Não contenta-se mais com risos, não é?
Não são as risadas que quer ouvir
Não são os sorrisos que deseja.

Cansou-se do arco-íris deprimente em suas roupas
Esgotou-se de remédios para poder trabalhar
Já frustrou-se muito por não ser levado a sério, afinal, era um palhaço.

Fez as malas. 
Mandou todos a merda, inclusive a ajudante do Mágico.
Despediu-se do falso, foi rumo ao Circo dos Horrores,
E prometeu a si mesmo deixar de ser Pagliacci.

Desgraçou-se. Parou de tomar felicidade. 
A tristeza o inundou e o ódio o queimou.
Tornou-se Pagliacci pela última vez.
Acordou cedo, pela manhã acordou todo hospital de câncer infantil com alegrias e balões.
Pela tarde, declarou-se pela primeira e última vez para seu amor platônico.
Pela noite, embebedou-se. Escreveu poemas e filosofias em um pedaço de papel qualquer
Borrou a folha com suas lágrimas de palhaço. Dirigiu-se a sua varanda
Colocou a última gravata que usaria. Sem estampas, sem brilho, sem desenhos.
E assim, vestido como ele mesmo, saltou. 
E por 3 longos minutos, sorriu pela última vez, com uma lágrima seca no rosto, e lembrou-se de que havia esquecido de colocar seu nariz vermelho.
Ironia do destino, suponho.

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